Isto está na Literatura

Literatura x Precedentes

Na ciência, a revisão paritária de literatura publicada em determinados periódicos tem a intenção de expandir o conhecimento de problemas da mesma forma que precedentes legais expandem o significado das leis. Precedentes são estabelecidos por juízes que tomam decisões em certos casos relacionados a uma lei específica. Tais juízes são práticos e lidam com as complexidades do mundo real.

Na ciência, entretanto – especialmente em “ciências sociais” – os árbitros não são juízes lidando com problemas do mundo real. Eles são acadêmicos – distantes do mundo prático tanto quanto possível – e tendem a focar na redução das complexidades ao invés de lidar com as mesmas.

Minha “publicação” na literatura

Na década de 90, eu gerenciei um amplo sistema de treinamento cerebral chamado Programas de Desenvolvimento de Atenção (Attention Development Programs) em Atlanta. Eu e outro treinador fomos convidados a nos juntarmos com Joel Lubarand Vincent Monastra na elaboração de um artigo que seria submetido a publicação. O objetivo era demonstrar que um aumento da razão teta/beta em Cz , até um certo nível, era um indicador de TDAH.

Eu submeti dados sobre vários casos que nós tínhamos treinado ao longo dos anos para inclusão na base de dados, porém descobri um problema. Clientes do tipo “desatento”- aqueles que viajam nos pensamentos quando apresentados a uma tarefa – apresentaram um aumento da razão teta/beta. Por outro lado, os clientes do tipo “hiperativo” – os que tendem a distrair-se com situações externas quando apresentados a uma tarefa entediante – de fato mostraram um nível BAIXO da razão teta/beta.

Eventualmente, isto veio a se tornar a base para a distinção da avaliação TLC entre os tipo de TDAH “Processando” e “Filtrando”, mas eu não o notara antes. Isto ajudou a explicar o mal entendido que eu tinha vivenciado quando fiz um curso sobre o método Othmer para TDAH em 1995. Eles alegaram ter visto frequentemente a razão de teta-beta AUMENTAR com a melhora dos clientes. Eu percebi que se a razão fosse alta, ela iria baixar para a faixa funcional e que se elafosse baixa, iria aumentar na escala funcional.

Eu compartilhei esta informação com Lubar e ele me disse que eu era o único participante no estudo a ter notado o fato (eu era o único que não era Ph.D ou médico). O artigo apresentou somente razões altas de teta-beta e foi publicado em 1999 na Neuropsychology  – um periódico prestigiado que geralmente não considera o neurofeedback. Este artigo continua a ser referenciado até hoje.

Anos mais tarde, quando ensinava em um workshop, conheci outro co-autor e contei a ele esta história. Ele havia dito para Lubar a mesma coisa e Dr. Lubar disse a ele o mesmo que havia dito para mim: que ele tinha sido a única pessoa a perceber o fato. Mais tarde, eu perguntei ao Dr. Lubar sobre o assunto na conferência. Ele explicou que devido aos problemas que estavam tento com que os “colegas”, os quais não sabiam nada sobre neurofeedback e não estavam entendendo a tese deles, decidiram deixar as coisas mais simples.

Acadêmicos conseguem estabilidade não por trabalhar no mundo real – e certamente não pela base dos seus ensinamentos. Eles conseguem estabilidade através das publicações. Como eles não precisam se preocupar com o mundo real (como os juízes devem), eles tendem a aumentar a oportunidade de publicação através do desmembramento de artigos em pedaços cada vez menores. Qualquer um que tenha de fato trabalhado com TDAH sabe que há pessoas com razões altas e baixas de teta-beta – e muitos possuem a escala “normal” – e ainda ter problemas de atenção. Alguns tem delta em excesso (abaixo de teta). Outros tem alfa em excesso (acima de teta). Não aparece nenhum problema na razão, mas ainda há problemas de foco, atenção e autocontrole.

No mundo acadêmico, um artigo que tentou fazer uma lista de todos os vários padrões que podem ter relação a problemas de atenção NUNCA seria publicado.Seria demais complicado, assim como a vida. A literatura tende a ser um lugar que ocasionalmente produz flashes de informação útil (por exemplo o trabalho de Richard Davidson em alfa assimetria), mas para cada um destes artigos há dezenas ou centenas que produzem pouca luz e até mesmo menos iluminação. Para o treinador prático com clientes reais em situações do mundo real, eles são de pouca valia.

Revisão paritária

A idéia de que cada nova publicação deve ser vetada por um júri de “colegas” é uma maravilhosa proteção contra quaisquer NOVAS idéias que passam a fazer parte da literatura. Em muitos casos os “colegas” possuem pouco conhecimento prático na área de estudo em foco – especialmente se eles são de periódicos mais “prestigiados”, os quais não focam normalmente em soluções e métodos “alternativos”. Mas mesmo os verdadeiros colegas podem ser saturados por aquilo que já é “entendido” por verdadeiro e eles se recusam a aceitar uma nova idéia ou técnica.

Eugene Peniston escreveu (junto com Paul Kulkosky) um dos melhores estudos no campo de treinamento cerebral (1990), voltado para o efeito do treinamento alfa/teta em alcoólicos crônicos. Porém, quando Peniston apresentou seu estudo pela primeira vez para um público de especialistas em neurofeedback, ele foi vaiado. O treinamento produziu nas medidas no MMPI (inventário de personalidade) “mudanças fundamentais nas variaveis da personalidade alcoólica”. Os psicologos não aceitaram que isto fosse possível. Personalidade não pode ser alterada, por eles. Evidencia de que isto TINHA mudado DEVE ser uma mentira.

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